quarta-feira, 16 de março de 2005

Parece até mentira!


Contando agora, ninguém acredita... mas no dia 06 de março, uma tarde de domingo, o meu vizinho de 11 anos tocou a campainha perguntando pra minha mãe se eu ou minha irmã falavamos inglês... que era pra ajudar um "árabe" que estava perdido aqui no bairro! Achei a situação interessante e cheguei aqui na porta pra ver onde ele estava! O cara mais parecia um mendigo... todo acabado... mas um rapaz que mora aki perto, que é professor, estava conversando com ele! Deixei lá e entrei em casa de novo! Minutos mais tarde, tomada pela curiosidade, tornei a abrir o portão e vi um bando de carinhas brincando com o pobre senhor, chamando ele de "Bin Laden"... resolvi chamá-lo... O inglês dele era bem básico, afinal se tratava de um iraquiano... ele explicou toda a situação dele (Que nem vou contar agora) e acabei colaborando com uma graninha, pra ele conseguir pegar o ônibus pra Vitória da Conquista. Isso foi por volta das 16h... pedi a ele que voltasse em 2 horas pra ver se eu conseguia algumas informações necessárias... liguei pra um amigo advogado pra tentar a sorte, tentei também o consulado do Iraque... mas aquele senhor não voltou!
Meu pai chegou a curtir com a minha cara, dizendo que aquilo deveria ser golpe pra conseguir dinheiro pra tomar cachaça... já que o homem só fedia a alcool! Simplesmente lavei minhas mãos e disse que quem estava em jogo era a consciência de quem pediu dinheiro... e não a de quem deu!
Nesta manhã de quarta-feira, minha mãe chega no quarto dizendo: "Tatiane, seu amigo iraquiano está no Correio da Bahia"!!
Aí vai a Matéria:

Visita inusitada


Rahamat bin Alley, 47 anos, que afirma ser um refugiado de guerra do Iraque, causou comoção na FIB

Rahamat bin Alley, 47 anos, suposto refugiado iraquiano, conseguiu arrecadar R$40 entre os estudantes da FIB

A presença de um suposto refugiado de guerra do Iraque causou burburinho nos corredores e na área externa da Faculdade Integrada da Bahia (FIB - Centro Universitário), no Stiep. No início da manhã de ontem, alunos do curso de jornalismo encontraram um homem numa das barracas próximo à faculdade, que se dizia vítima dos combates entre Estados Unidos e Iraque. Vestindo roupas sujas, com bafo de bebida alcoólica, o até então anônimo mendigo chamou a atenção dos estudantes ao narrar em inglês os horrores dos recentes bombardeios em solo iraquiano. "Perdi meu pai, meu tio, meus irmãos. Na guerra, ou a gente mata ou a gente morre. Preferi fugir", contou na língua daquele que considera seu maior inimigo. "George W. Bush é maluco. Ele quer nosso petróleo", julgou, sem conter as lágrimas.

Natural de Bagdá, Rahamat bin Alley, 47 anos, que trabalhava numa das plataformas de petróleo do Iraque, conta ter embarcado clandestinamente, com a mulher e os quatro filhos adolescentes (dois meninos e duas meninas, com 11, 13, 15 e 16 anos de idade), em um navio que zarpou em direção ao porto de Ilhéus para fugir dos constantes bombardeios em solo iraquiano. Escondido com a família no porão do navio de carga durante dois dias, ele não teve outra opção senão se apresentar ao capitão. "Ia morrer de fome", justificou. Sensibilizado com a situação dos passageiros ilegais, o capitão decidiu seguir viagem e não denunciar o fato às autoridades competentes. Durante os três meses e duas semanas em que cruzou o mar na esperança de dias de paz, Rahamat trabalhou com a mulher na limpeza da embarcação em troca de comida.

Há quatro meses morando ilegalmente no Brasil, Rahamat bin Alley disse ter deixado mulher e filhos em Vitória da Conquista. Em Salvador desde novembro do ano passado, ele alegou que veio tentar buscar ajuda para regularizar a permanência no Brasil. Na capital baiana, o imigrante conta ter sido vítima de um outro tipo de guerra, igualmente violenta. Assaltado no dia 20 de novembro do ano passado no Nordeste de Amaralina, ele teve a mala, R$120 e todos os documentos, inclusive o passaporte, roubados por três homens, que ainda o espancaram. "Roubaram tudo e quebraram meu nariz", afirma, mostrando a marca da agressão somada a tantas outras cicatrizes que ele jura serem de guerra.

Ocorrência - Vivendo, dormindo e perambulando nas ruas da cidade desde então, sem qualquer dinheiro ou documento, Rahamat bin Alley tem no bolso apenas a cópia do boletim de ocorrência policial registrado na 28ª Delegacia, no dia 22 de novembro de 2004. A família, que, segundo ele, continua morando em Vitória da Conquista na casa de dois amigos iraquianos, que após fugirem da Guerra do Golfo, em 1992, conseguiram o direito de morar no Brasil, não tem notícias do seu paradeiro. "Meus amigos já casaram e são felizes aqui no Brasil", afirmou, explicando o motivo que o fez parar nas imediações da FIB. "Estava passando por aqui, percebi que era uma faculdade e vim ver se encontrava alguém que falasse inglês e pudesse me ajudar", explicou, tentando soletrar a expressão "direitos humanos".

Acuado e querendo fugir a todo momento, o suposto iraquiano narrou o drama, diante de professores e estudantes, em algumas salas de aula, onde foi arrecadado dinheiro para o custeio de sua passagem de volta para Vitória da Conquista. "I like Brazil", falou, num dos raros momentos em que sorriu. Assustado com a presença da reportagem, ele tentou fugir, sendo seguido pelos estudantes. "Tenho medo de ser deportado. Se voltar para o Iraque, posso ser morto", justificou, tentando escapar do cerco de universitários, que prometiam apenas ajudá-lo a reencontrar a família.

Além de comer um pastel e um refresco de graça numa das bancas de lanche da FIB, Rahamat bin Alley deixou a faculdade levando R$40. Negando a oferta de carona até a rodoviária, o iraquiano demonstrou esperteza ao explicar que seguiria em carro pequeno até Feira de Santana, onde poderia pegar um ônibus sem ter que mostrar qualquer documento. Dizendo-se muçulmano, ele agradeceu a solidariedade dos estudantes e de todos os outros cristãos que o têm ajudado a sobreviver em Salvador, despedindo-se em língua árabe, onde a única palavra que todos entenderam foi Alá.

Acompanhando com o olhar cada passo de Rahamat bin Alley, os estudantes torceram por dias melhores, sem duvidar da história que ouviram. "Não acreditei logo, mas depois que conversei com ele não tive dúvida: ele tem cara de iraquiano mesmo", constatou o estudante Henrique Mata, que foi o tradutor do suposto estrangeiro. "Fiquei com pena dele. Tomara que ele possa morar em paz aqui no Brasil", torceu o universitário. Um dos porteiros da faculdade duvidou da versão e vociferou: "Ele é iraquiano lá de Sussuarana. Vejo ele lá direto", concluiu, deixando no ar a dúvida sobre a nacionalidade e a honestidade de Rahamat bin Alley.


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Assalto registrado em delegacia


Não há como ter certeza da nacionalidade de Rahamat bin Alley, mas parte da história narrada por ele aos estudantes é comprovada na 28ª Delegacia de Polícia, localizada no Nordeste de Amaralina. O delegado Ruy Pereira da Paz, então titular da delegacia, confirma a existência da queixa. Num dos plantões, o delegado foi surpreendido com a presença do homem que falava inglês e se dizia iraquiano. "Ele não parecia brasileiro, mas falava um pouco de português. Apesar de não ter documento algum, a fisionomia - pele bastante queimada do sol e nariz afilado - lembrava um iraquiano mesmo", avaliou ontem o delegado Ruy da Paz.

Com hematomas no rosto e muito debilitado pelas pancadas, o suposto iraquiano não quis se submeter a exame de lesões corporais, alegando estar na delegacia apenas para ter um documento que pudesse auxiliá-lo a voltar para Vitória da Conquista, onde sua família o esperava. Sem saber tratar-se de um imigrante ilegal, o delegado não contactou a Polícia Federal. "Como ele tinha perdido o passaporte, não entramos neste detalhe. Se ele tivesse sido preso, era nossa obrigação verificar a situação dele, mas ele é quem procurou a delegacia em busca de auxílio", lembrou o delegado, dizendo ter orientado o estrangeiro a procurar a Polícia Federal, a imprensa ou um possível Consulado iraquiano, que o delegado admitiu nem saber se existia aqui.

Apoio - Ainda pouco conhecido, o Centro Islâmico da Bahia não é um consulado iraquiano, mas pode funcionar como ponto de apoio para imigrantes muçulmanos no Brasil. Ignorando a situação relatada pela reportagem do suposto muçulmano, o xeque Abdul Ahmad disse não ter conhecimento da presença de iraquianos na Bahia. "Fiquei até chocado, mas se essa história for mesmo verdade podemos tentar ajudá-lo no que for possível", garantiu, fazendo a ressalva das constantes farsas envolvendo refugiados muçulmanos.

"Há três anos, fomos procurados por um muçulmano que estava ilegalmente no país e nos pediu R$11 mil de ajuda. Isso é inviável", narrou o xeque, lembrando que o estrangeiro se hospedou durante três semanas num hotel de luxo em nome do Centro Islâmico. "Não pagamos nada porque não tínhamos responsabilidade por uma hospedagem que não autorizamos. No caso dele, era tudo mentira. Tem muita gente que usa o nome do Islã porque sabe que a comunidade luta para ajudar", contou o líder espiritual dos 300 muçulmanos que vivem na Bahia.


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SERVIÇO

O Centro Islâmico da Bahia fica na Rua Dom Bosco nº 190 - Nazaré. Telefone: 3241-1337

8 comentários:

  1. Hoje minha mãe chega em casa, após a caminhada e diz:
    Vi seu amigo iraquiano aqui no bairro... tomando cachaça e jogando dominó!

    -> Acho que ele gostou tanto de Salvador, que não quer voltar pra Vitória da Conquista! hehehehe

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  2. Essa figura era vista no Extra Paralela e na Rodoviária tb, minha gente.

    Quem sabe o álcool dele eh suco de uva (Michael Jackson à parte).
    Eckhart!

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  3. EU CONHECI O SUJEITO!!!

    Ele estava lá no Rio Vermelho hoje.... ehauheuhauea Tati, só lembrei de vc.

    E olhe só a comédia: quando ele começou a contar a história, eu já me liguei quem era... E comentei que já tinha ouvido falar dele através de uma amiga minha. Sabe o que ele respondeu?!?
    "Ah, ela me falou..! E ela disse que qualquer coisa pode falar com ela, se tiver algum recad pode dizer que eu falo..."

    Cara, eu ri muuuito!! E rirei mais alguns dias...
    Eu e Fred estamos até pensando em decorar alguns xingamentos em árabe e falar pra o cara em tom amigável, como se fossem apenas cumprimentos e ver como ele reage.... ehehehehe xD

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  4. kkkkk! Até agora dou risada! Como ele é cara de pau! Mas me conta, ele ainda usa a história do assalto em amaralina? Diz que a família está em Vitória da Conquista? Pede dinheiro? Fala aquele inglês básico??
    Que descarado... queria encontrar com ele de novo! hehehehe

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  5. Qdo ele veio com essa conversa pra cima de mim, eu caí, e lhe dei dois reais, ele dizia q ia pra Conquista, q a familia o estava esperando lah... e disse q tava dormindo na Rodoviaria...

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  6. O pior de tudo, é q quem não conhece a história do malandro até cai na dele... dá um dinheirinho, tenta ajudar! q safado!

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  7. Na verdade ele mal começou a contar que era refugiado Iraquiano e que tinha um amigo em Conquista e... Aí eu interrompi e deu-se o sucedido. :P

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